Portugal pode melhorar condições para fintechs mas inovação no sector destaca-se
Revolut, Banco de Portugal, SIBS e PLMJ animaram o debate sobre os desafios e oportunidades de um sector financeiro impactado pelas fintechs, esta tarde no Portugal Digital Summit.
Ao longo da semana muitos foram os testemunhos que ajudaram a quantificar o crescimento do comércio eletrónico em Portugal nos meses da pandemia (que pode rever em www.portugaldigitalsummit.pt ou no SAPO).
Esta tarde Tereza Cavaco, diretora de sistemas de pagamentos do Banco de Portugal, sublinhou os dados referentes aos pagamentos sem contacto, que no ano passado representaram 7% e este ano passaram a pesar 30% no universo dos pagamentos eletrónicos, uma evolução que também reflete as alterações legais ao teto das operações sem confirmação de código. As compras online seguiram a mesma tendência de crescimento, os próximos meses dirão se a tendência se mantém
A responsável também deixou no debate uma visão sobre a atuação do Banco de Portugal nesta área dos pagamentos eletrónicos, um domínio onde o enquadramento relgulatório europeu muito se tem alterado e onde continua o esforço para uniformizar regras, que permitam aos europeus pagar da mesma forma em qualquer país, sublinhou.
Bruno Ferreira, Managing Partner e Sócio nas áreas de banca e finanças da PLMJ também abordou o tema, para considerar que Portugal não tem aproveitado como podia – para inovar - estas oportunidades de renovação do enquadramento legal dos serviços financeiros e deu o exemplo do tempo que demorou a entrada em vigor da regulação para o crowdfunding.
“Temos algum atraso estrutural” na adoção das novas regras que têm vindo a modernizar o sistema financeiro e o enquadramento dos seus atores, sublinhou o responsável, considerando que “há uma tendência para desenhar a realidade como ela era até agora”, porque os “quadros mentais” de regulação estão ainda muito presos aos modelos passados.
Tereza Cavaco não deixou o comentário sem resposta e defendeu que em áreas como a da Diretiva de Serviços de Pagamento, que suporta as maiores alterações introduzidas nos últimos anos, está em causa “uma mudança radical e como qualquer transformação deste porte, os resultados não se sentem de um dia para outro”.
No mesmo painel estiveram também duas empresas que trouxeram inovação disruptiva para o mercado financeiro, como quase 30 anos de diferença, a SIBS e a Revolut, que aqui garantiram que têm trabalho em conjunto, reconhecendo o esforço mútuo para aproximar a oferta das necessidades do cliente.
“Estamos sempre atentos e vamos falando com os novos entrantes porque temos todo o interesse em trabalhar com as novas empresas que vão entrando em Portugal”, sublinhou Ricardo Chaves
Chief Commercial Officer da SIBS.
Ricardo Macieira, Country Manager em Portugal da Revolut partilhou aqui que “Portugal é um study case muito interessante”, onde a empresa conseguiu já alcançar 600 mil clientes, número idêntico ao de Espanha, mesmo reconhecendo que permanecem algumas barreiras à entrada, até por consequência da forte presença do Multibanco.
Para endereçar estas barreiras o responsável via com bons olhos a criação de novos mecanismos regulatórios. “A sandbox regulatória que surgiu no Reino Unido foi o que permitiu fazer do país o epicentro das fintech”, sublinhou, considerando que para “uma fintech vingar a nível global, tem primeiro de vingar em Portugal” e isso exige um mercado competitivo.
No debate houve ainda espaço para falar nas big tech, como uma Google ou uma Apple, e no impacto da sua entrada cada vez mais vincada neste mercado. Ricardo Chaves admitiu a propósito que “as big tech fazem um desbalanceamento completo do mercado, que a longo prazo seria quase insuperável”.
A esperança de um reequilibro continua depositada nas ferramentas de regulação que ainda não chegaram e que nem sequer cabem, pelo menos por enquanto, na missão dos reguladores: “não há riscos materiais que advenham do funcionamento das fintech na Europa”, como sublinhou Tereza Cavaco, sobre o Banco de Portugal.
Ricardo Chaves partilhou ainda na sessão alguns dados que ilustram a aposta da SIBS na inovação e em tecnologias emergentes para melhorar a segurança dos pagamentos eletrónicos em Portugal, apontando que os mecanismos de segurança nos pagamentos eletrónicos são tão eficazes que fazem com que a fraude em Portugal seja apenas um quinto da registada na Europa.
O responsável deu nota da transformação digital do serviço Pay Watch, que faz a monitorização de todo o sistema de pagamentos em Portugal e que permitiu melhorar em 40% a capacidade preditiva dos alertas, graças à utilização de inteligência artificial, multiplicar o bloqueio automático de operações em 12 vezes ou a capacidade produtiva dos alertas em 40%, contribuindo para uma redução da fraude no digital na ordem dos 35%.