Pagamentos e entregas: o que está a mudar em Portugal e além-fronteiras?
O comercio eletrónico é mais importante do que nunca e isso traz desafios aos modelos de negócio, desde a definição da oferta aos meios de pagamento. O tema esteve em destaque nas sessões Tech for Business e Fast and Crossborder Payments, no último dia do Portugal Digital Summit’20.
Na sessão Tech for Business, Tiago Oom, diretor da REDUNIQ, e Rui Jorge Santos, diretor de Produto da Área de Soluções Empresariais dos CTT, falaram de soluções tecnológicas para inovar, reduzir custos, criar novas linhas de receitas e reforçar a relação com o cliente.
O aumento de entregas durante o período de pandemia foi “brutal” nos CTT. E continua a ser. Desde abril que a empresa está em situação de pico, com aumentos sucessivos acima de 50% face ao ano passado, partilhou Rui Jorge Santos. “O facto de termos duas redes, uma base e outra contratada, ajudou, mas também reforçámos capacidade em termos de pessoas, horários e forma como as equipas estavam alinhadas”.
O diretor de Produto da Área de Soluções Empresariais dos CTT admitiu que a empresa beneficiou de todo um contexto, que incluiu o facto da maioria das pessoas estarem em casa e haver menos trânsito. “Tornou-se mais difícil gerir as entregas a partir de junho, com a recuperação do B2B”.
A conjugação de todos estes fatores tem sido um desafio muito grande que não deverá abrandar, mesmo com as lojas reabertas, até porque o Natal está aí. “Estimamos que a peak season do Natal também acompanhe o crescimento visto até agora. Temos estado a bater recordes sucessivos de entregas na história dos CTT”.
A mudança é estrutural, acredita Rui Jorge Santos. “As compras online têm uma boa experiência associada” e por isso é natural que se mantenham, no Natal com o fator extra das restrições impostas relativamente ao número de pessoas nas lojas físicas, lembrou o responsável.
Por parte da REDUNIQ destaca-se a diferença sentida ao nível dos pagamentos. “Com a pandemia as pessoas perceberam que o contactless traz vantagens enormes. Crescemos perto de 300% neste tipo de transações”, referiu Tiago Oom. O valor médio por transação em terminal físico via inserção de cartão de contactless passou para 20 euros.
“O contactless era algo que vínhamos a incentivar há muito tempo, mas havia alguma resistência por falta de conhecimento. Certas atividades ainda resistiam ao terminal com uma ideia antiga de que era algo dispendioso que lhes levava muita margem”, apontou o diretor da REDUNIQ.
Para Tiago Oom esta mudança nos hábitos de pagamento sem contacto veio para ficar, em cartão ou com o smartphone. “É muito mais prático pagar com o telefone que tenho no bolso do que ir a um multibanco levantar dinheiro e andar com trocos”.
Os desafios atuais dos pagamentos além-fronteiras
No painel Fast and Crossborder Payments o tema foi o dos pagamentos além-fronteiras, nomeadamente sobre as estruturas que existem para fazer pagamentos de um país para o outro, o que está a ser preparado e quais os maiores desafios que se colocam. Paulo Raposo, diretor-geral para Portugal da Mastercard, e Gonçalo Amaro, diretor de Digital & Ecommerce da SIBS partilharam as suas experiências e opiniões.
Numa economia que tende para a globalização ter instrumentos que asseguram que pessoas que vivem fora de Portugal possam comprar em Portugal e pessoas que vivem em Portugal possam comprar noutro país é fundamental, começou por lembrar Paulo Raposo.
O diretor-geral para Portugal da Mastercard sublinhou que esses sistemas e soluções existem, são estáveis e estão a funcionar. Acredita que vão sofrer uma evolução do ponto de vista da autenticação, “mas na prática hoje já estão bastante solidificados.
O processo das transferências imediatas na SIBS “foi um caminho”, referiu Gonçalo Amaro. Tudo começou com o lançamento do MBWay em 2015 e com foco nas transferências domesticas, com uma adesão muito rápida. “As transferências domésticas continuam a representar mais de 95% das transferências em Portugal. Tem sido um dos pilares de sucesso do MBWay”, acrescentou o diretor de Digital & Ecommerce da SIBS. O serviço conta atualmente com 2,6 milhões de utilizadores e 10 milhões de transações por mês.
Em 2018 a SIBS lançou a plataforma de transferências imediatas, numa primeira fase com foco doméstico. No último ano a plataforma reunia 15 instituições bancarias, representando 95% das contas.
Entretanto foi dado o passo seguinte para assegurar a micro operabilidade da rede dentro de um serviço europeu de transferências imediatas, o Tips. “Com base nesta integração conseguimos assegurar essas transferências imediatas para qualquer banco aderente a esta plataforma”, apontou Gonçalo Amaro. Neste momento são sete os países com esta interoperabilidade, sendo que o objetivo para o próximo ano é abranger um total de 28 países.
“As transferências imediatas trazem um novo paradigma no mercado. Além da simplicidade e conveniência que trazem a empresas e instituições públicas, o facto de serem pagamentos instantâneos, permitem facilitar o aparecimento e crescimento de novos modelos de negocio empresariais no comércio mundial”, considera o diretor de Digital & Ecommerce da SIBS. “Melhoram e facilitam o processo de gestão de tesouraria, permitindo prazos de recebimento mais rápidos e a simplificação de processos de faturação e cobrança”.
Projetos em desenvolvimento
A Mastercard tem vindo a trabalhar naquilo que denomina de plataforma multirail. “Os cartões continuam a ser um foco fundamental do negocio, mas a realidade é que o mercado tem vindo a desafiar e têm surgido as novas plataformas de pagamento, como os pagamentos instantâneos os real time e na pratica o que a mastercard esta a fazer é apetrechar-se para responder a todo o tipo de experiencias e casos de uso”, explicou Paulo Raposo.
A intenção é construir um modelo de negócio para “passar fluxos de todos para todos”, desde o P2P ao G2P. “A ideia é criarmos esse modelo intermedio em que qualquer entidade se pode ligar à Mastercard e na prática não ter só um sentido de pagamento ou de fluxo, mas termos a capacidade de fazê-lo nos dois sentidos. Isso já está a ser materializado.
Para Paulo Raposo, a tecnologia está aí e funciona com toda a segurança. “Hoje em dia estamos numa situação em que o compromisso entre segurança simplicidade e o pouco atrito para o consumidor está encontrado”.
Neste momento, na SIBS, a fase é a da abertura de infraestruturas de pagamento. “Físicos, híbridos, existe espaço para o aparecimento de rails diferentes de formas de pagar”, considera Gonçalo Amaro.
Uma das formas que está a ser avaliada é a criação de um novo esquema europeu “que possa acelerar toda a transacionalidade, para depois haver uma alternativa aos métodos de pagamento internacionais que atualmente existem”, apontou o diretor de Digital & Ecommerce da SIBS.