Grupos de media exploram novos caminhos para rentabilizar conteúdos e negócio
A mudança dos formatos, dos conteúdos e dos canais de comunicação são um desafio para as empresas de media que esteve esta manhã em debate Portugal Digital Summit, com representantes da TVI, HBO, SAPO e SIC.
A pandemia alterou planos e obrigou as empresas de media a encontrar novas respostas, sem retirar da ordem do dia temas antigos, como a quota cada vez mais significativa que os grandes gigantes globais da internet absorvem das receitas de publicidade. Ainda assim, os últimos meses também demonstraram que os players mais tradicionais não perderam espaço para agir e acabaram até, em muitos momentos, por ser a primeira escolha dos consumidores portugueses. Audiências não faltaram a quem disponibiliza conteúdos na TV ou na internet, mas nem por isso os modelos de negócio se tornaram mais rentáveis.
Dados dos últimos meses analisados, olha-se para o futuro com otimismo no sector dos media em Portugal, enquanto voltam a alinhar-se planos de negócio e estratégias para um médio prazo que se espera mais comparável com a realidade antes da pandemia, mas cada vez mais marcado por novas tendências no consumo de conteúdos.
“A indústria onde estamos foi a que mais se transformou ao longo das últimas décadas. Foi a indústria onde o encontro entre o digital e os modelos mais tradicionais foi mais vibrante”, destacou esta manhã Nuno Santos, diretor-geral da TVI. Um percurso que deu traquejo às televisões para encaixarem mais uma mudança, mas não conseguiu evitar totalmente a surpresa.
O responsável contou que quando assumiu o cargo em janeiro “tinha uma ideia de relançamento do canal em três fases”. Não foi possível concretizar nenhuma delas nos prazos previstos. “Foi preciso reinventar tudo”, mas como também sublinhou “esta foi uma realidade que todos os operadores enfrentaram”.
Há mercado para os conteúdos locais
Vale ao sector em Portugal, garantem os responsáveis, a qualidade dos produtos que disponibiliza, mesmo com alguns constrangimentos que noutros mercados podem estar atenuados, como sejam a dimensão ou a língua.
Mas também aqui as estratégias começam a ser pensadas para colmatar limitações e chegar a novos públicos. Cristina Vaz Tomé, administradora da SIC e da Impresa Publishing detalhou o novo serviço de streaming que o o grupo se prepara para lançar, numa lógica de “total vídeo”, em resposta ao desejo crescente de consumir conteúdos em qualquer ecrã. O OPTO vai ter conteúdos de entretenimento, informação e ficção diferentes dos que a estação distribui nos canais de TV que vão estar disponíveis em português e inglês, a pensar na exportação e nas comunidades portuguesas (falantes e não falantes da língua). Em novembro o grupo vai também vão lançar uma plataforma de esports, com conteúdos em português, revelou ainda a responsável.
Nesta área do streaming, os players nacionais enfrentam a concorrência das grandes plataformas internacionais, como a HBO, que neste painel se fez representar por Patrícia Reis, vice-presidente de Marketing do serviço em Portugal, que aqui também veio confirmar a aumento exponencial de audiências durante os meses de confinamento. A responsável deixou mais duas notas: Portugal é um mercado com algumas particularidades e que nem as grandes plataformas descartam a importância dos conteúdos locais.
“A penetração de canais pagos em Portugal é muito alta e isso faz com que, de alguma maneira, o publico português esteja muito preparado e seja muito exigente na hora de escolher conteúdos e isso é uma diferença do mercado português em relação a outros”, explicou Patrícia Reis. A responsável também sublinhou que a produção nacional tem sido uma aposta em Portugal desde o lançamento do serviço, feita por via da aquisição a outros produtores, como a RTP.
SAPO reforçou parcerias na resposta à pandemia
Entre os nativos digitais, como SAPO, a perceção de relevância dos conteúdos locais não é muito diferente e esse foi um dos marcos na estratégia do portal desde o início da pandemia, como explicou Filipa Martins no debate, partilhando vários exemplos.
Quando a pandemia se instalou “tivemos uma orientação muito clara para rapidamente dar tudo por tudo, para que não faltasse nada de nada aos nossos clientes” e para aproveitar “uma oportunidade [de crescimento de audiência e captação de novos públicos] que percebemos que não ia durar para sempre”.
A oferta de conteúdos informativos foi reforçada, com o apoio de várias parcerias, nomeadamente com a Direção-geral da Saúde. Foram desenvolvidas iniciativas para aproximar os consumidores de pequenos produtores, criadas rubricas de entretenimento com a colaboração de artistas nacionais, ou promovida uma parceria com a AHRESP para ajudar os restaurantes a recuperarem clientes.
Concorrência dos players internacionais
No debate foi ainda dado destaque ao tema da concorrência dos grandes players digitais, um problema reconhecido por todas as empresas que a enfrentam – em Portugal e nível global. A reivindicação de um enquadramento regulatório europeu é antiga mas não perdeu nem o sentido nem força, porque as medidas também não chegaram.
“Estamos em situações completamente desequilibradas de concorrência e é nessa medida que as entidades reguladoras têm de olhar para estes temas. Não é fácil porque tem de haver aqui uma ação concertada a nível europeu, mas o nosso papel enquanto stakeholder deste sector é sinalizar estas situações de desequilibro”, sublinhou Cristina Vaz Tomé, administradora da SIC e Impresa Publishing.
Nuno Santos também comentou o tema considerando que “ haver algum apoio a este sector não é sinónimo de o Estado estar a comprar o sector. A intervenção do Estado e das entidades reguladoras pode fazer-se a diferentes níveis”, defendeu.
Filipa Martins quantificou o problema, referindo ainda que hoje 70 a 80% das receitas publicitárias nos media digitais, que absorvem uma fatia cada vez maior do investimento publicitário, vão para os players globais.
Acompanhe o Portugal Digital Summit em www.portugaldigitalsummit.pt. Pode também acompanhar a emissão em direto no SAPO ou na TV (posição 420)